quarta-feira, 7 de março de 2012

Sufoco

Eu sei que quem não tem filhos já está farto desta conversa e revira os olhos com o que soa a presunção, mas não me lixem. Quem não tem filhos simplesmente não pode saber. Ter filhos significa entrar numa nova dimensão em que a escala que mede os sentimentos literalmente explode. Em ambas as direcções. Qual extasy, qual spacecake, perto do enebriamento que se sente ao ver um filho feliz. No outro extremo, o sufoco que é supor um filho doente com alguma coisa estranha da qual nunca se ouviu falar é como estar dentro de uma cápsula cinzenta enquanto a vida acontece à nossa volta. Estamos ali, mas não estamos. Hoje, enquanto ia pela terceira vez meter moedas no parquímetro (três vivas para a pontualidade das consultas em hospitais públicos, hip hip, hurray!) sentia o sol a bater-me forte na cara e, no entanto, ele não me trazia nenhum calor.
E depois, finalmente. Um médico que desdramatiza e nos explica com toda a calma que não há razões para pânicos. Que, em princípio, o Lucas é assim porque é o Lucas. Que o normal não existe e que os desvios do "percentil 50", gravado a ferro e fogo na cabeça da minha geração de mães, fazem parte do colorido da vida. Um médico que apetece abraçar, não fosse o embaraço que causaria a ambas as partes (isso e estarmos a ter a consulta praticamente no corredor).
Agora, é esperar pelos próximos exames e fazer figas para que ele tenha razão. Que os doces olhos azuis-acinzentados do meu menino não sejam mais do que diferentes, por serem os dele.

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