quinta-feira, 28 de abril de 2011

As conversas do Manuel 9

Ao final do dia, a caminho de casa.
- Então, o que é que fizeste hoje na escola?
- Já me esqueci pol causa do vento.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

As conversas do Manuel 8

Estou à espera que o Manuel saia do carro, mas está demorado porque decidiu despir o casaco.
- Por que é que estás a despir o casaco agora?
- Polque estou com um calôle do calaças.

sábado, 9 de abril de 2011

A Nossa Nova Amiga de 4 Patas

Estou na cozinha a comer um iogurte e a olhar lá para fora quando vejo, de repente, na parede ao fundo, algo a mexer-se rapidamente e a desaparecer por detrás do vaso dos recém-plantados e verdejantes framboeseiros.
Acostumada a passar as férias de verão no interior algarvio, as osgas não me são propriamente seres estranhos. Convivemos com tolerância, desde que o espaço individual seja mutuamente respeitado (isto é, elas nas paredes exteriores e telhados, ou escondendo-se entre as canas do tecto da cozinha, e eu cá em baixo a, pelo menos, vários metros de distância. (Dizem que elas de vez em quando se deixam cair lá de cima, mas eu ignoro esses boatos certamente criados para inquietar raparigas citadinas. Nunca vi nem quero ver.)
Tivemos até já alguns encontros imediatos, sendo que o destino da criatura dependeu sempre da companhia em que eu estava. Da primeira vez, há muitos anos atrás, estava com uma amiga mais medrosa do que eu, e após algumas tentativas falhadas de expulsar a intrusa do quarto, acabámos por usar o que se veio a provar serem horrendos métodos de tortura. Poupo-vos os detalhes, digo apenas que envolveu spray para o cabelo, duas raparigas dando gritinhos histéricos e uma morte lenta do bicho rastejante (eu sei, eu sei que foi cruel e vou sentir remorsos para o resto dos meus dias).
A segunda teve mais sorte, pois após recuperar do ataque que quase tive ao ver mais um exemplar desta espécie sair a alta velocidade do meu saco de viagem quando me preparava para por lá dentro as minhas roupas, chamei os gajos da casa, que conseguiram apanhá-la com uma grande caixa de plástico transparente e passaram o resto da tarde numa aula de ciências da natureza, admirando as fascinantes patas com ventosas, o belo tom verde do corpo, os olhos salientes e o ventre que parece de goma, antes de a soltarem nos campos. (Não sem antes fazerem experiências tão divertidas como colocar dentro da caixa bonecos da playmobil, e observar como ela reagia. Bah.)
Até ontem eu era já, pois, uma quase-especialista em osgas. Ainda assim, daí a ter uma na minha própria casa é toda uma nova dimensão.
Pelo que, depois do jantar, assim que as crianças se levantaram da mesa (não me estava propriamente a apetecer que fossem lá para fora arrastar vasos à procura da espantosa bicha), disse baixinho e com gravidade ao marido:
- Temos uma osga no terraço.
...
Não noto qualquer reacção. O rosto não manifesta a mínima alteração. Depois percebo porquê.
- Eu sei. É a nossa osga. Já vive connosco há vários anos.

Ah. Então está bem. Sendo assim, já fico descansada. E eu que tinha acabado de preencher os censos.