quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um cromo na minha caderneta

Ontem entrei no talho aqui do bairro para comprar um frango e estavam a tocar o We Are The World. Ainda nem me tinha apercebido de que há som ambiente no talho. Na verdade, vou lá muito pouco. Não comemos muita carne aqui em casa. Música ambiente no talho, que sofisticado. E ah, como eu adorava esta canção, como me arrepiava de emoção a ver o vídeoclip do Live Aid, as vezes que eu a cantei em frente à televisão, envergando um microfone imaginário.
E, de repente, fui transportada para 1985 e surgiu-me na mente uma cena na qual nunca mais tinha pensado. Como é possível? Devo ter reprimido isto! E hoje veio outra vez ao de cima, inesperadamente, tipo acto falhado. E logo no talho. Nem quero pensar que significados o Sigmund daria a isto.
Então foi assim:
Um dos monitores dos tempos livres que eu frequentava depois da escola no trabalho da minha mãe, mais dado a cantorias, resolveu um dia, talvez nas férias do Natal, reunir a canalha e fazer um We Are The World caseiro.
Não me lembro exactamente de como decorreu o processo de escolha dos artistas, mas deve ter sido qualquer coisa como:
- João, tu fazes de Bruce Springsteen, Ana, tu és a Diana Ross, tu, Cátia, a Tina Turner e tu, Jacinto, darias um belo Lionel Ritchie.
E por aí fora. De qualquer modo, a meio da distribuição de papéis, o monitor olhou em volta, como que à procura de alguém. E foi aí que seu olhar pousou em mim e ele proferiu a espantosa frase:
- Tu, és a Cindy Lauper perfeita.
Podem imagirar o choque que isto pode causar a uma pacata rapariga de 12 anos, nada dada a confusões, mas com a adolescência a querer brotar? Hoje voltei a sentir esse impacto. E não sei se foi bom.
E assim foi. Cantámos e, quando chegou a minha vez, eu não desperdicei a minha oportunidade e tentei imitar a exuberante Cindy, cantando a plenos pulmões. Duvido que tenha conseguido berrar com o mesmo estilo, mas a comparação é injusta. Eu não tinha o cabelo amarelo com madeixas vermelhas. Em vez disso, tinha franja e usava uns enormes óculos de massa castanhos. Mas a comoção que ambas sentimos por participar num coro assim, essa deve ter sido parecida.



Live aid - 1985 Usa For Africa - We Are The World

Adenda: Continuo a emocionar-me quando vejo este vídeo.

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